
Caminhante Não Há Caminho

Um poema para acabar na semana – Caminhante Não Há Caminho:
Todo a passa e tudo fica,
mas o nosso é passar,
passar fazendo caminhos,
caminho sobre o mar.
Nunca persequí a glória,
nem deixar na memória
dos homens minha canção;
eu amo os mundos subtis,
ingrávidos e gentiles,
como pompa de jabón.
Gosto de vê-los pintar-se
de sol e grana, voar
baixo o céu azul, tremer
subitamente e avariar-se…
Nunca persegui a glória.
Caminhante, são tuas impressões
o caminho e nada mais;
caminhante, não há caminho,
faz-se caminho ao andar.
Ao andar faz-se caminho
e ao voltar a vista atrás
vê-se a senda que nunca
tem-se de voltar a calcar.
Caminhante não há caminho
senão estelas no mar…
Faz algum tempo nesse lugar
onde hoje os bosques se vestem de espinos
ouviu-se a voz de um poeta gritar
«Caminhante não há caminho,
faz-se caminho ao andar…»
Golpe a golpe, verso a verso…
Morreu o poeta longe do lar.
Cobre-lhe o pó de um país vizinho.
Ao afastar-se viram-lhe chorar.
«Caminhante não há caminho,
faz-se caminho ao andar…»
Golpe a golpe, verso a verso…
Quando o jilguero não pode cantar.
Quando o poeta é um peregrino,
quando de nada nos serve rezar.
«Caminhante não há caminho,
faz-se caminho ao andar…»
Golpe a golpe, verso a verso.
Antonio Machado